Tão
pequenos, mas sabiam de coisas que nem o cientista mais maluco descobriria.
Eram espertos de pés descalços.
Aquela ponte os separava. O rio lá embaixo ardia vontades de ultrapassagem, mas
era proibido. As famílias não se davam e por anos nem se viam. Protestantes
versus católicos. Eram doutrinas e culturas que não valiam à pena, mas ninguém
sabia, e com viseira nos olhos seguiam o que já esperavam.
Ele
corria, cansado. Seu cabelo vermelho bagunçava e bochechas rosavam, realçando
as sardas. Suor escorrendo na testa. Corria dos garotos maiores jurando que
quando crescesse iria se livrar de todos eles. Seria sua vingança.
Correu
longe e se livrou dos brutamontes. Lembrou que sua mãe não perceberia sua
ausência, estava ocupada demais se preocupando com o marido bêbado e com as
“gêmeas irritantes”. Ele as odiava. Talvez por ser o único filho homem e ser
tratado como “menininha” quase sempre. Queria que o pai se orgulhasse dele.
Queria na verdade, ser como o pai: corajoso, destemido, dono das verdades, porque era assim que o via, não ligava para o que os outros diziam.
Viu a
ponte, pensou duas vezes e correu, atravessando-a. Não se deu ao luxo de olhar
quem vinha pela rua perpendicular, e num esbarrão, caiu, derrubando também o
outro menino.
Não sei
explicar o que se deu ali, mas foi coisa de instantes. Dizem que amigos já
nascem amigos, sem precisar de balela, e assim que foi. Talvez pelo sentimento
de desobediência, pela vontade de ser diferente daqueles que os criavam.
Identificaram-se por serem tão diferentes e tão iguais. As idéias rolavam
assim, sincronizadas, todo dia.
O outro
menino era pacato. Tinha um cansaço nos olhos castanhos. Era filho único e seu
pai traia a mãe com a moça da bilheteria do cinema. Adorava filmes de
faroeste onde os homens carregavam uma bainha de couro na cintura, com arma
antiga de cano fino. Aliás, essa era a paixão dos meninos durante toda a
infância. Entravam pela porta dos fundos e enganavam o moço dos ingressos.
Sonhavam em ser como os vilões, nunca como os mocinhos. Roubo de bancos,
crimes, tiroteio, cavalaria.
E num
dia bem normal, decidiram-se, iriam dar o fora dali, fugir, e quando
conseguissem fazer tudo o que queriam, voltariam e contariam a história pros
outros. Seriam vilões de faroeste, famosos, apareceriam nos jornais.
E assim
fizeram.
Mal
sabiam eles que a cidade inteira os procurava, os pais desesperados querendo
notícias, carros de polícia por todos os lados. Rebuliço.
Os
meninos conseguiram o que queriam sem querer, ficaram mais conhecidos que os
próprios atores bandidos da TV.
Os
pegaram. Voltaram pra casa orgulhosos, mas não esperavam o pior: grades e
cadeados. Ficariam encarcerados em suas próprias casas como pena a cumprir. A
ponte parecia até maior. Eles estavam mais longe.
Essa
foi a pior pena.
.
O ruivo
o que tinha agora, depois de tanto tempo, era no lugar das mechas vermelhas,
mechas brancas e uma barba rala. E na mesma cadeira do bar onde seu pai havia
morrido baleado anos atrás, estava agora sentado.
Em sua
direção, o carteiro cansado caminhava. “Carta
pra você”, ele disse. Estranhando, abriu o envelope e reconheceu ali, os anos
que havia perdido.
.
Baseado no filme “Eternos Heróis”.
Mickybo e Jojo
Mickybo e Jojo
uhaiushdiauhsdiha nossa nath demorei umas meia hora pra ler tudo mai é muito bonito deu muita vontade de assistir o filme tbem!e seu desenho ficou muito bom tbmm!!!! a gente perde muitos anos por causa disso.... quero baixar o filme!
ResponderExcluirshaushuhsauahs Acho q vc foi o único que leu, ficou enorme mesmo. Não consegui resumir. Assite o filme que é legal! XD
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