sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Mais chocolate, bolo e pudim

Esse ano eu quero mais...
Mais amigos, mais festa, mais sesta.
Mais sorrisos, mais abraços, comida no prato e pés descalços.
Mais piadas, mais sabores, mais amores.
Quero mais saúde, mais livros no metrô.
Quero mais suco de maracujá, mais cachecóis de tricô.
Quero mais pensamentos, mais idéias.
Mais viagens, mais fotografias, mais caretas.
Quero mais bigode de leite e no cabelo mais enfeite.
Quero mais gente do lado, mais gargalhadas, mais rabiscos de caneta.
Mais violão, mais meditação. Mais trança, mais dança.
Mais mar, mais mato, mais natureza.
Mais chocolate, mais bolo e pudim.
Eu finjo que não sei, mas no fundo eu sei sim...
Todos os anos são assim!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

São Thomé das Letras

É preciso viver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar.
Acreditar que as coisas boas estão dentro da gente, onde os desejos não precisam de razões, nem os sentimentos de motivos.

(Autor Desconhecido)







domingo, 28 de novembro de 2010

Mágramática

"Façamos parte do contexto,

Sejamos todas as capas de edição especial,
Mas, porém...
Contudo...
Entretanto...
Todavia...
Não obstante...
Sejamos também a contracapa, porque ser a capa e ser contracapa, é a beleza da contradição. É negar a si mesmo. E negar a si mesmo, é muitas vezes encontrar-se com Deus...

com o teu Deus!"

O Teatro Mágico

sábado, 13 de novembro de 2010

Papel de parede


Aquela casa sempre foi um devaneio. As cores se misturavam e se ofuscavam enquanto os olhos piscavam. Era incrível como o movimento rápido das pálpebras traziam imagens distorcidas, como num caleidoscópio. O cachorro que era confuso em suas decisões, não sabia se escolhia para janta pizza ou talharim, era um descansa pés vestido de morango.
A velha chorava vendo novela enquanto acariciava o gato marrom que nunca largava. Podia ouvir o animal ronronar e soltar bolas de pêlo em seu colo. Era uma beleza de se ver.
O homem da casa sentado, esparramado na poltrona esparramada. Não se sabe se via o jogo do palmeiras ou horário político. Só se via do outro lado da TV um rabinho proeminente, enroladinho. Vai saber...
A menina quieta, reprimida, brincava agachada com seus pingüins de estimação. Tinha nas mãos um sino e junto aos pés uma bola listrada de cor vermelha, azul e amarela. Cores que me lembram, inclusive, um caso de uma velha amiga. Mas isso é uma outra história, outro devaneio...
Podia ser uma família estranha aos olhos de quem vê. Mas que olhos vêem? Como os olhos vêem? Qual é o ponto que faz o olho levar informação ao cérebro de forma rápida e repetitiva? E quando não há mais o que se imaginar, as coisas se tornam informações todas de mesmo peso, mesmo peso pra todo mundo, mundo inteiro.
Podia ser uma família normal aos olhos de quem quisesse ver. Quem quisesse entender.
Podiam ser pessoas estranhas aos olhos normais. Podiam ser pessoas normais aos olhos estranhos. Vai saber...

sábado, 23 de outubro de 2010

Bala de café

            Ela olhou os olhos verdes por trás das lentes, cada uma de 1 grau. Borboletas no estômago.
Tentou adivinhar o que se passaria dentro daquela caixola, mas o que passavam eram as pessoas ao lado deles. Talvez 50, talvez 100, talvez um milhão, nem percebiam.
Ele olhava pra ela e ela enrubescia. Ela o olhava e ele a encarava. Os pés dele no chão e os dela nas nuvens. Se bem que ela nunca sabia muito bem onde estavam seus pés, nem suas mãos.
A viagem nunca havia ficado tão curta.
O ponteiro por trás no vidro quebrado perdera o ritmo lendo, era incrível. Tinham que deixar de ir e vir e dar um jeito de se despedir.
Então ele disse com um sorriso bobo "até a próxima..." E ela sabia. Sabia que na próxima, enquanto durasse, levaria na mochila um banquinho, e nos bolsos, bala de café.


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

Eles eram tão pequenos


Tão pequenos, mas sabiam de coisas que nem o cientista mais maluco descobriria. Eram espertos de pés descalços.
Aquela ponte os separava. O rio lá embaixo ardia vontades de ultrapassagem, mas era proibido. As famílias não se davam e por anos nem se viam. Protestantes versus católicos. Eram doutrinas e culturas que não valiam à pena, mas ninguém sabia, e com viseira nos olhos seguiam o que já esperavam.
Ele corria, cansado. Seu cabelo vermelho bagunçava e bochechas rosavam, realçando as sardas. Suor escorrendo na testa. Corria dos garotos maiores jurando que quando crescesse iria se livrar de todos eles. Seria sua vingança.
Correu longe e se livrou dos brutamontes. Lembrou que sua mãe não perceberia sua ausência, estava ocupada demais se preocupando com o marido bêbado e com as “gêmeas irritantes”. Ele as odiava. Talvez por ser o único filho homem e ser tratado como “menininha” quase sempre. Queria que o pai se orgulhasse dele. Queria na verdade, ser como o pai: corajoso, destemido, dono das verdades, porque era assim que o via, não ligava para o que os outros diziam.
Viu a ponte, pensou duas vezes e correu, atravessando-a. Não se deu ao luxo de olhar quem vinha pela rua perpendicular, e num esbarrão, caiu, derrubando também o outro menino.
Não sei explicar o que se deu ali, mas foi coisa de instantes. Dizem que amigos já nascem amigos, sem precisar de balela, e assim que foi. Talvez pelo sentimento de desobediência, pela vontade de ser diferente daqueles que os criavam. Identificaram-se por serem tão diferentes e tão iguais. As idéias rolavam assim, sincronizadas, todo dia.
O outro menino era pacato. Tinha um cansaço nos olhos castanhos. Era filho único e seu pai traia a mãe com a moça da bilheteria do cinema. Adorava filmes de faroeste onde os homens carregavam uma bainha de couro na cintura, com arma antiga de cano fino. Aliás, essa era a paixão dos meninos durante toda a infância. Entravam pela porta dos fundos e enganavam o moço dos ingressos. Sonhavam em ser como os vilões, nunca como os mocinhos. Roubo de bancos, crimes, tiroteio, cavalaria.
E num dia bem normal, decidiram-se, iriam dar o fora dali, fugir, e quando conseguissem fazer tudo  o que queriam, voltariam e contariam a história pros outros. Seriam vilões de faroeste, famosos, apareceriam nos jornais.
E assim fizeram.
Mal sabiam eles que a cidade inteira os procurava, os pais desesperados querendo notícias, carros de polícia por todos os lados. Rebuliço.
Os meninos conseguiram o que queriam sem querer, ficaram mais conhecidos que os próprios atores bandidos da TV.
Os pegaram. Voltaram pra casa orgulhosos, mas não esperavam o pior: grades e cadeados. Ficariam encarcerados em suas próprias casas como pena a cumprir. A ponte parecia até maior. Eles estavam mais longe.
Essa foi a pior pena.
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O ruivo o que tinha agora, depois de tanto tempo, era no lugar das mechas vermelhas, mechas brancas e uma barba rala. E na mesma cadeira do bar onde seu pai havia morrido baleado anos atrás, estava agora sentado.
Em sua direção, o carteiro cansado caminhava. “Carta pra você”, ele disse. Estranhando, abriu o envelope e reconheceu ali, os anos que havia perdido.



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Baseado no filme “Eternos Heróis”.









Mickybo e Jojo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Já é hora de realidade

      Não, meus óculos não me ajudam muito, vejo coisas que não via e me esqueço de ver o que preciso. Quando entro no vagão, afogo-me nos livros mágicos, esqueço até de dar lugar pra velhinha gestante de criança no colo. Descobri que de agora em diante preciso medir o IMC das pessoas que entrarem e pedirem lugar.
      Os vultos? Com os vultos já me acostumei, agora mudaram pra esbarrões, tapas, palavrões. Eles só querem chegar em casa pra jantar, eu sei.

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      Flash de olhos sem letras: sentou-se, olhou pela janela escura o escuro, mordeu a maçã, abriu um livro que tentei com toda a elasticidade do pescoço reconhecer, mas foi em vão. Tinha um detalhe no cabelo que me fez lembrar e rir. Um amigo costumava chamar de “pega-rapaz”. Mas quem pega o quê? Rapaz? Rapaz pega rapaz? Não faz muito sentido pra mim, mas quem discute?
      Enfim mergulhou-se em seu mar de letras, enquanto eu, na borda, me divertia com as expressões perdidas dos outros viajantes. Cada um com um balão de pensamento remexido pela pressão no ouvido, pela dor de cabeça e nariz entupido. É como televisão querendo dar defeito, chiando. É a velocidade.
      Uma, chora na janela. Outra, ri com a amiga lésbica. Um, pinta quadros no ar. Outro, calcula contas gigantescas com tecnologia de Homem de Ferro.
     Ouço o último apito. Num estalar de dedos, notas musicais, números binários e objetos flutuantes são guardados nos bolsos. Dirigem-se cansados à porta.
Já é hora de realidade.

“Cada um vê com o olho que tem, aquilo que pode e o que lhe convém.” Érika Machado

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Balão/porco-espinho

Sou um balão e tenho vontades de porco-espinho.

Quando menos espero, me vejo vazio, flácido e frio.

Preciso encher-me continuamente e todo dia busco ares diferentes. Cores diferentes. Formas diferentes.

Sou um balão e tenho vontades de porco-espinho.

Meu destino é voar, me perder entre nuvens, camuflar-me nos céus, distrair as crianças. Mas fico na terra, enfiando-me em buracos, procurando em quem me espelhar, em quem me espetar, em quem pôr a culpa.

Sou um balão e tenho vontades de porco-espinho.

Quando penso que minha forma me é suficiente, logo quero ser lagarta listrada, barata virada, onça e pardal.

E meus dias passam... Assim, adoçado demais, ou sem sal.

Devo mesmo ser anormal.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vai tempo, vai...



Vai tempo, vai...
Leva as pétalas, as flores, as dores.
Leva as doutrinas, as cortinas, as tendas.
Leva e não trás de volta.
Eu sei que não volta.
Não corta, não entorta.
Leva isso e deixa aquilo, leva aquilo e deixa isso.
Deixa disso. O que é que tem?
Eu não faço nada , e você também.
Esquece de levar as histórias, as escórias, as memórias.
Levando as coisas das minas.
Me deixando biruta com as rimas.



terça-feira, 27 de julho de 2010

Sorte - Montanaro




Esta tirinha foi feita pelo cartunista João Montanaro e está exposta no João Blog.

João trabalha na Revista MAD (que coincidentemente tem o apelido do meu querido amigo ladrão de jaquetas) e na Folha de São Paulo e tem apenas 14 anos! E o melhor, ele adora Calvin e Haroldo. Esse menino é um gênio.

domingo, 25 de julho de 2010

Um rei e o Zé

Um rei me disse que quem deixa ir, tem pra sempre.
E me contou que só foi rei porque pensava assim tão diferente.
E eu, que andava assim tão zé,
deixei que tudo fosse e decidi olhar pra frente,
mas não vi nada.
E o rei me disse:
“A pressa esconde o que já é evidente.
Foi do meu lado que eu achei o que me fez assim tão diferente.”
E eu, que corria assim tão zé,
deixei que tudo fosse e decidi mudar de frente,
mas não vi nada.
Não leve a mal,
eu só queria poder ter outra filosofia,
mas não nasci pra conversar com rei.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

O menino da guitarra Dolores




Hey boy! Mas seu cabelo tá bonitão,
De onde você tira tanta inspiração? Imaginação? Curso de computação?
Tira tuas escritas da panela, deve ser...
Já vem pronto teu ensopado de frases estranhas,
tua sopa de letrinhas das entranhas.
Ninguém te ensinou a pôr os pés no chão?
Ninguém te ensinou a ser sem sal como todo esse mundão?
Da tua loucura peço parte,
não esquece da careta na foto,
que eu vou querer um autógrafo,
quando você virar professor de arte.
Eu sei, você precisa voltar logo.
Tua mãe tá te chamando, e teu irmão chorando,
querendo colo.
Agora, menino, se liga, não cochila.
Quando vai me devolver a jaqueta que eu botei na tua mochila?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Faça arte, palhaçada faz parte!

Manu, Soninha e Nathalia viraram desenho! =O

"Viva á tua maneira, não perca a estribeira, saiba do teu valor.

E amanheça brilhando mais forte que a estrela do norte que a noite entregou!"


sexta-feira, 16 de julho de 2010

Equívoco

Esquina de uma rua escura, por volta das sete da noite.

- Moça, faz favor...

- Oi? – Parando, coração acelerado do medo e da pressa.

- Eu e minha mulhé tâmo passando dificuldade, a gente tem dois filho piqueno, a gente tá com fome, saca? Tâmo aqui há algum tempo e (...)

Quando, de repente, olhou os livros que a menina levava, sua mochila rasgada, suas olheiras e cabelo bagunçado.

- (...) Ah... Você é estudante né... Tá bom fia...

(Fatos reais, rs.)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Onde?

Tava aqui pensando nessa vida como é que tá.
As pessoas querem um carro e até mesmo um apartamento no Guarujá.
Querem festas, metas, multidões,
um amor lá no fim dos quarteirões.
E agora a humildade, onde fica?
A cumplicidade, a amizade o perdão?
A liberdade de dizer o que pensa e não ficar na mão?
O abraço dado, as palavras ditas, o senso de humor?
O silêncio, os risos, os passeios pela rua, pela lua?
Um alto-falante bem gigante era o que eu queria agora,
pra dizer pra essa gente, que o que fere de repente, não é um tapa, um beliscão.
Mas sim o grande ego, a febre pelo mundo, os pés que não estão no chão.
São Longuinho, onde foi parar a via certa, a rua reta dessa contra mão de curvas?
Onde?

Instinto máquina

        Andei desconfiando de coisas não muito fúteis, fúteis como diriam em qualquer novela popular ou até mesmo em letras de músicas românticas.
       Como qualquer sentimento, seja ódio, rancor, dor ou alegria, o amor se iguala ao ser. Por ser mais forte, julgam-no irreversível ou até mesmo eterno. Mas onde diabos já se viu o eterno? O que é eterno? Apenas um dilema inventado pelo mesmo autor dos sentimentos. Talvez quisesse dar a eles uma pitada a mais de emoção. Um sentimento eterno, assim como a memória, não dura. Logo, concluímos (precipitadamente ou não) que o amor é passageiro.
      Poderíamos até julgar o ser humano como ser superior aos outros animais, com capacidades aleatórias e vantajosas. Porém, nem um ser é superior ao outro enquanto houver ainda, uma harmonia entre ser e natureza. Qual é a finalidade de uma formiga saber a teoria da relatividade? Ela consegue viver perfeitamente com todas as suas funções e com todo seu “QI limitado”. Não existe ser superior ao outro, o que implica é sua adaptação ao meio em que vive. Somos adaptados a nossa sociedade da mesma forma que um gafanhoto é adaptado a sua.
     Uma mãe leoa julga sua cria, afastada do bando por um tempo, inimiga. A ataca e não a reconhece. Uma mãe humana, longe de seu filho, pode perder todo afeto que um dia nutriu quando este era apenas uma criança. Perde-se o afeto, mas não perde-se o contato. O mesmo seria se os leões soubessem usar o telefone.
     Contudo, voltando ao assunto, vemos que os sentimentos são, portanto, consequências de nossa adaptação. Como estes, existem também desejos, impulsos, sentidos. Todos guiados pela falsa sensação do eterno, pela memória curta do cérebro frágil. Sem saber que o menor, o mais desprezível defeito nos circuitos internos, reduz o tudo a nada. Assim como máquina.