sábado, 14 de abril de 2012

12:00h / 32ºC

As moedas eram contadas, uma a uma, de um jeito que eu ou você jamais contaria. Porque eu não sei se eram meus olhos que fantasiavam demais, mas eu conseguia ver uma simplicidade e uma cumplicidade tão grande ali, que como as moedas, também não contaria.
Ele usava o tato, o cheiro, a intuição. Ele usava os outros sentidos pra saber que o sol sorridente e o vento despenteador de cabelo de menina estavam lá. Se duvidar ouvia até o casal de andorinhas conversando, o bom dia do cachorro siamês que passava ali. Sentia a tensão da mãe pegando a mão do filho pra atravessar, ouvia o coração acelerar do rapaz ao telefone. Seu mundo era cercado de coisas que não via. Vendia suas bugigangas e contava as moedas, bem devagar. Ele não queria ver, nem precisava, estava tudo ali a sua frente, o mundo borbulhando sons e sentidos, borbulhando olhos, mãos e bugigangas...
Aquele senhor não tinha ideia de que eu o via todos os dias na hora em que o sol estava bem no meio do céu, bem em cima de nossas cucas quentes, mas acho que ele talvez pudesse ouvir minha presença, sentir as cores da minha mochila colorida, sei lá.
 E tentando inventar o mundo dele através do meu, eu me pergunto se cega não sou eu.

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